Era um dia de chuva,
mas ela queria muito sair. Depois da noite anterior um pouco de chuva
faria até bem, afinal, ela precisava esfriar a cabeça. Ela saiu,
sem rumo, sem direção, sem nada. As ruas estavam vazias,
silenciosas, a não ser pelo barulho da chuva que insistia em se
infiltrar pelo capuz do seu casaco. Agora ela estava só, e tinha
certeza que ele nunca voltaria. Ele tinha deixado isso bem claro, não
a amava, na verdade, acho que ele nunca amou ninguém, nunca foi
humano o suficiente para isso. Ela sentou no meio fio. A chuva tinha
acalmado um pouco, mas agora ela já estava toda molhada. As ruas
ainda estavam vazias, agora mais do que nunca. Só agora ela tinha
percebido, tinha sido ali, naquela rua, na frente daquela casa. O
primeiro beijo dos dois, o primeiro dos tantos beijos que agora
tinham se transformado em lágrimas. Ela estava vazia. Nada de
felicidade, nada de ódio, nada de nada. Ela nem tinha mais tanta
certeza se sentia a falta dele de verdade. Acho que nem fazia muita
diferença, nos últimos meses ele tinha andado tão ausente. E enfim
ela percebeu, já não amava. Aquilo era como perder alguma coisa com
a qual ela estava muito acostumada, mas nada que ainda fosse
importante e insubstituível para ela.
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